RESUMO
Embora tenham surgido como atividades comunicacionais vinculadas ao patronato,
as Relações Públicas acompanharam as transformações da sociedade capitalista,
convertendo-se também em Instrumentos úteis às classes trabalhadoras. Este
ensaio inventaria os usos sociais das Relações Públicas nos movimentos populares
contem-porâneos, particularmente no Brasil.
Palavras- chave: Relações Públicas; comunicação popular; movimentos sociais.
ABSTRACT
In spite of its origin as a communication tool used by the entrepeneurs, Public
Relations developed its profile according to the fast changes of the
capitalistic society, being also converted into a mechanism usefull for the
working class. This paper recovers the social uses of Public Relations In the
contemporary popular movements, mainly In Brazil.
Key Words: Public Relations; popular communication: social movements.
RESUMEN
Aunque su origen este a vincula a las actividades comunicativas de los
empresarios, las Relaciones Públicas cambiaran su fisionomia de acuerdo a las
transformaciones de la sociedad capitalista, convertiendose también en
herramienta útil a las clases obreras. Este artículo hace un inventario de los
usos sociales de las Relaciones Públicas en los movimientos populares
contemporáneos, particularmente en Brasil. Palabras clave: Relaciones Públicas;
comunicación popular; movimientos sociales.
1. Movimentos Populares e Relações Públicas
Há aproximadamente uma década vêm se desenvolvendo de forma mais visível, no
Brasil, novas possibilidades às relações públicas. Elas transcendem, com mais
vigor, dos mundos empresarial e governamental - embora estes continuem seus
campos de atuação predominantes, para o mundo das organiza-ções e movimentos
sociais populares.
Assim, até há mais ou menos dez anos relações públicas eram concebidas
teoricamente e praticadas majoritariamente enquanto um instrumental a servi-ço
do capital, dos governos e da hegemonia das classes dominantes. Mas, a sociedade
é dinâmica e, acompanhando as mudanças que vêm ocorrendo no interior da
sociedade brasileira, as relações públicas também chegou a vez de deixarem-se
mudar. Hoje, teórica e praticamente, é possível falar de relações públicas
populares, ou comunitárias, orgânicas às classes subalternas. Ou seja, de um
trabalho de relações públicas comprometido com os interesses dos segmentos
sociais subalternos organizados, ou num sentido mais amplo com o interesse
público. .
Falar de relações públicas populares, ou comunitárias, significa falar de
"novas" relações públicas. "Novas" no sentido de estarem comprometidas com a
realidade concreta e com as necessidades e interesses majoritários da população
sofrida, impossibilitada de usufruir dos direitos plenos de cidadania.
Portanto, as relações públicas populares implicam num olhar inconformado do
status-quo, e ao mesmo tempo, implicam num "apostar" na transformação social. Ou
seja, é um olhar inconformado no sentido de não se conformar, não aceitar a
realidade de opressão a que está sujeita a maior parte da população brasileira.
Opressão essa que está refletida nas condições de miséria, na carência de
moradia digna, na subnutrição de um terço da população brasileira, na falta de
saúde, no aumento do número de meninos e meninas de rua e tantas outras coisas
que afetam a vida. Um dado que reflete bem essa situação: Segundo pesquisa da
ONU - Organização das Nações Unidas, o Brasil ocupa a 51ª posição mundial em
termos de desenvolvimento humano (considerando a expectativa de vida, grau de
alfabetização e poder de compra básica da população), seguido do Paraguai que
está em 52ª posição.
Mas, na dinamicidade da sociedade ela vai criando mecanismos de negação, a
antítese à situação de desigualdade social. No decorrer dos anos, vários
expoentes (pessoas, movimentos sociais, organizações não governamen-tais,
segmentos da Igreja Católica, segmentos universitários, alguns partidos
políticos, alguns órgãos públicos etc.) vão se agregando em tomo de lutas em
defesa da vida.
No bojo desse processo é que se forjam os movimentos sociais populares, os quais
vão desenvolvendo ações coletivas em favor do interesse público, dos interesses
da maior parte da população.
Estes movimentos, em última instância, lutam pelo acesso a bens de consumo
coletivo (no campo da educação, da saúde, da moradia etc.), bens necessários à
própria vida, aos quais todo cidadão tem direito. Em suma, significa a
reivindicação ao direito de participação da população na riqueza socialmente
produzida, bem como no direito de participação política.
Aliás, manifestações em defesa da vida vem ganhando amplitude mun-dial. Por
exemplo, a defesa da preservação do meio ambiente, da paz, dos direitos da
mulher, dos direitos à individualidade, de participação política etc. São
valores antigos, mas que voltam a ser atuais. São valores emergentes e não
predominantes nem hegemônicos, mas que convivem e estão ajudando a compor uma
nova realidade. No fundo há uma rejeição a tudo que afronta a vida, a dignidade
e o bem comum (violência, corrupção, autoritarismo político,. destruição da
natureza, degradação das condições de existência e outros).
No Brasil, estes e outros valores também estão presentes. Várias institui-ções,
pessoas, movimentos populares estão inseridos em todo um processo contra as
várias formas de negação à vida. Entre essas forças destacamos os movimentos
sociais populares por representarem "novas" organizações. Novas não no sentido
de não terem existido antes, claro. Movimentos dessa natureza existiram ao longo
da história da humanidade. Mas, novos para aquele momento histórico, ou seja
final da década de 70, durante a fase final de um período marcado por mais de
duas décadas de um regime militar autoritário que bloqueara qualquer iniciativa
crítica e organizativa da sociedade civil, e por outro lado porque aos poucos
vão forjando estruturas sociais e valores inova-dores. Nascem a partir "dos de
baixo", das bases, ou da população empobrecida e se organizam por fora e
independente dos canais tradicionais de participação como os sindicatos e os
partidos políticos, bem como de outras instituições privadas e públicas. De fato,
ocupam um espaço diferente daquele ocupado pelos partidos e sindicatos enquanto
canais abertos à canalização dos interesses da sociedade.
Porém, lembramos que para alguns, falar de movimentos sociais, atual-mente,
seria algo ultrapassado porque tais movimentos teriam acabado etc. A nosso ver
essa questão envolve toda uma complexidade.
A sociedade civil continua viva em seu m o v i m e n t o. O que ocorre é que os
movimentos populares têm passado por momentos diferenciados. Numa primeira fase
ocupam espaços públicos para denunciar e reivindicar. Foi o momento de grandes
manifestações públicas. Depois se dedicaram muito à sua própria organização.
Centenas de associações, grupos, comissões etc. foram criados. As atividades são
mais localizadas e são feitos esforços para a fortificação ao nível interno que
envolve conscientização, formação política, ações coletivas para solução de
problemas ou carências nos bairros etc. É mais ou menos por essa fase que alguns
se apressam a decretar a decadência e até o fim dos movimentos populares. No
entanto, há indicações de que estava havendo uma mudança de atuação e de
qualidade, refletida até pelas circuns-tâncias de um momento político que já
possibilitava mais liberdade de expressão e de organização. Enquanto se.
discutia a retração dos movimentos populares, em algumas partes, como no caso do
Estado do Espírito Santo, Brasil, eles estavam se articulando em organizações
mais amplas. Ou seja, não pararam nas micro-organizações. Sentiram a necessidade
de articulação e assim foram surgindo as federações, Federação de Associações de
Moradores no nível de município, por exemplo. E mais do que isso. Em 1987/88 foi
constituída a FAMOPES-Federação de Associações de Moradores e de Movimentos
Populares do Espírito Santo, formada pelas próprias organizações de base que
congregam associações e movimentos populares de todo o Estado do Espírito Santo.
Todo este m o v i m e n to tem uma terceira fase, bastante candente no início
dos anos 90, quando os movimentos procuram adquirir mais competên-cia, se
aperfeiçoar' em campos de sua atuação. Por exemplo, conhecer os mecanismos de
elaboração do orçamento municipal ou da planilha de custos para o transporte
coletivo. .
Os movimentos populares procuram adquirir mais competência para poderem
participar mais efetivamente discutindo projetos, pressionando e, possivelmente,
se preparando para passarem a propor projetos, ou seja buscam adquirir
competência para melhor negociar com o Poder Público, para melhor interferir no
processo de construção da realidade. .
Voltamos à questão das "novas" estruturas sociais que estão sendo gestadas no
âmbito dos movimentos populares, segundo Piragibe Castro Alves (sd). Essas se
caracterizam em: a) Núcleos de socialização (Clubes de Mães, Grupos de Jovens
etc.). É um espaço onde as pessoas se encontram. Por exemplo, a partir daí as
mulheres passam a extrapolar sua ação dentro dos limites do lar. Passam a
conviver, discutir e procurar soluções para seus problemas de ordem familiar e
comunitária. b) Núcleos econômicos (cooperativas, associações de produtores
etc.). Onde se gestam experiências de trabalho, de produção e de gestão coletiva
e/ou experiências autogestionárias de unidades produtivas. c) Núcleos políticos
(associações de moradores, federações de associações etc.) Neste nível se gestam
e se administram processos reivindicatórios coletivos. São experiências que além
de exercitarem uma certa "administração local" (bairro), também favorecem o
aprendizado de relacionamento com o Poder Público, a Prefeitura por exemplo.
Mas, o que é mais importante, o fazem através de suas entidades representativas
(e não mais através de indivíduos isoladamennte) e introduzindo práticas
participativas coletivas e pluralistas. d) Núcleos culturais (Grupo de teatro,
Movimento Negro etc.). Nesse nível há todo um movimento de recuperação da
história e de identidades, bem como de criação e recriação de valores no campo
da cultura.
Quanto aos "novos" valores: Uma sociedade cerceada em sua liberdade de expressão
e organização, de repente desenvolve valores como a noção de participação direta.
A população introduz uma forma direta de atuar, sem intermediários, no âmbito
das associações, nos bairros e nos municípios. Administra suas próprias
organizações através de diretorias eleitas democrati-camente, com mandato
temporário e poder delegado pela base. Em suas organizações todos podem falar,
discutir, propor, voltar, decidir e ajudar a executar. Os vereadores, parece,
passam a não dar conta de todos os reclamos e necessidades da população, e ela
passa a agir diretamente, passa a se relacionar de forma direta com o Poder
Público.
Um outro valor muito presente diz respeito à noção de direito. O direito à
moradia, o direito à saúde, o direito à educação, enquanto direito coletivo e
público. A satisfação de certas carências passa da percepção enquanto direito
individual, à direito coletivo, da pessoa humana e de todas as pessoas que estão
naquela situação.
Há ainda valores como o da participação da mulher (que quebra o tabu de sua "vocação"/obrigação
restrita ao lar), da rejeição à violência contra às mulheres, da autonomia (que
significa a busca por grande parte dos movimentos em caminhar de forma
independente, sem a tutela de órgãos públicos, partidos e de outras instituições),
de solidariedade e da gratuidade. Apesar do mundo competitivo e individualista
onde se inserem, os movimentos populares evidenciam que existe muita gente que
faz muita coisa em beneficio do seu semelhante ou do interesse público, sem ser
por dinheiro nem poder. Pelo contrário chegam a gastar do próprio bolso
prestando serviços durante o seu tempo livre.
Estas são alterações emergentes no plano dos valores culturais, da sensibilidade
e do estilo de ação no âmbito da sociedade civil. Não são hegemônicos, como não
o são os movimentos populares, mas estão aí lutando pela participação, liberdade,
igualdade e solidariedade, em outras palavras, pelo direito à vida.
Todavia, os movimentos populares recentes no Brasil, apesar de fragmen-tários e
não predominantes no conjunto da sociedade, evidenciam uma luta não só pela
democratização política e cultural, a qual aliás vão conquistando na prática,
mas fundamentalmente pela democratização econômica. Eles colocam muito
claramente reivindicações pelo acesso ao consumo das riquezas social-mente
produzidas, na forma de acesso a bens de consumo coletivo, como a escola, o
posto médico, o transporte etc. Porém, também existem movimentos mais ligados as
condições mais gerais de vida, como o do meio ambiente, movimentos mais voltados
para a defesa dos direitos da pessoa humana, movimentos em tomo das
desigualdades mais explicitados no tocante à etnia e ao sexo, como o movimento
negro e o feminista.
É este um dos campos no qual as relações públicas populares podem contribuir
para a transformação social.
Sob o ponto de vista teórico não basta transpor para o campo popular o
instrumental das Relações Públicas "tradicionais". Há que se fazer adaptações,
repensar seus princípios. Implica sobretudo numa opção política e numa opção
metodológica fundamentadas na democracia e na dialogicidade (na perspectiva de
Paulo Freire).
2. Princípios das Relações Públicas Populares
Relações Públicas populares, ou comunitárias, são aquelas comprometidas
fundamentalmente com a transformação da sociedade e com a constituição da
igualdade social. Elas têm a ver com uma concepção de mundo e com uma concepção
de homem que: a) Acredita no homem, na sua potencialidade de construir uma
sociedade justa e livre. b) Que enxerga a desigualdade social, as contradições
de classes e quer o bem estar, a plenitude dos direitos da cidadania assegurados
para todos os seres humanos. c) Acredita nas possibilidades de mudança. E na
sociedade civil como gestora de mudanças e de nova hegemonia. d) Implica na
interdisciplinaridade entre vários campos do conhecimento e da ação
político-educativa. e) Que se realizem de modo orgânico ao interesse público e
preferencialmente inseridas em experiências concretas e alicerçadas na
metodologia de uma educação popular libertadora. f) Favoreça a ação coletiva,
a autonomia, a partilha do poder de decisão, a co-responsabilidade (tanto pelas
práticas participativas como pela implantação de políticas públicas em confor-midade
com as necessidades e interesses da comunidade) e, claro, respeitando a dinâmica
própria, dos movimentos onde se inserem.
No movimento comunitário, ou em outras organizações populares e sindicais, as
relações públicas se concretizam de modo inserido. Não é algo externo, de fora e
independente, mas como parte intrínseca do movimento. Neste sentido elas vão
estar, nem na frente nem atrás do movimento, mas juntas e sendo constituídas em
sua dinâmica.
2.1. Interdisciplinaridade
Uma vez inseridas no processo dos movimentos populares e sindicais as relações
públicas se realizam de modo interdisciplinar, ou seja, correlacionadas com
outras áreas da comunicação e com outras áreas do conhecimento. No campo do
comunitário, do sindical etc. é difícil isolar as atividades de comunicação em
relações públicas, em jornalismo, em propaganda etc. Aí se fala e se pratica
comunicação. Do mesmo modo é difícil também separar comunicação do serviço
social, da sociologia, da política etc. Estas áreas, na prática concreta, se
constituem reciprocamente. Não se sobrepõem umas às outras, mas se complementam
e necessitam-se reciprocamente, numa ação conjugada. Se observamos bem, veremos
que o real não se constitui fragmentariamente. É uma totalidade. Por vezes nós é
que somos educados a ver e a trabalhar o real de forma fragmentária.
3. Campos de Ação
Enquanto cidadãos, nós profissionais de relações públicas, também temos o
direito e o dever de contribuir para a realização da cidadania de todas as
pessoas do nosso país, ou de todos os países que ainda não a tem assegurada. E,
entendemos cidadania não apenas como ter os direitos de participação política
assegurados legalmente, de ter o direito de ir e vir, mas também como o direito
de participar da feitura da sociedade e de usufruir, com igualdade, das benesses
dessa mesma sociedade.
Nesta perspectiva as relações públicas podem ser concretizadas numa abrangência
grande de instituições. Vamos precisar três campos. Primeiro: seja qual for a
organização para a qual trabalhamos (seja empresa privada, órgão público ou
qualquer outra instituição) podemos ocupar espaços abertos pelas contradições.
Apesar das limitações, previsivelmente existentes, sempre exis-tem atividades,
projetos e programas nos quais podemos fazer algo em prol do interesse genuíno
de públicos ou do interesse público. Segundo: nas organizações que se pautam
pelos interesses do bem comum e/ou orgânicas aos movimentos sociais populares,
como nas ONGs (-Organizações não Governamentais), por exemplo. Terceiro: dentro
dos própri-os movimentos ou organizações sociais populares e sindicais . Aí
enquanto membro (sem vinculo empregatício), assessoria (voluntária ou
remunerada) ou como profissional contratado, é possível fazer um trabalho
engajado colocando seus conhecimentos e as técnicas de RRPP a serviço dos mesmos.
4. Relações Públicas Populares no Nível das Possibilidades
As relações públicas populares, ou na contramão , podem ser efetivadas em ações
que visem a conscientização, mobilização, adesão, organização e coesão no nível
interno dos movimentos; que contribuam no planejamento das atividades e na
realização de eventos, pesquisas, produção de instrumentos de comunicação etc.;
que facilitem a conquista de aliados, através de uma comunicação eficiente com
os públicos e com a sociedade como um todo; que favoreçam a conquista de espaços
nos grandes meios de comunicação de massa; que estabeleçam relacionamento
adequado com os órgãos do Poder Público e com outras instituições da sociedade.
Explicitando melhor, no âmbito do popular, as relações públicas podem contribuir
:
a) No levantamento do conjunto da situação, ou diagnóstico, para subsidiar a
ação a ser implementada.
b) No planejamento, de preferência participativo, das atividades das entidades
sem fins lucrativos, inclusive para a implementação de programas ou políticas
públicas.
c) No incremento da comunicação e articulação dentro do próprio movi-mento e
dele para com outros movimentos similares.
d) Na obtenção de informações para os movimentos populares e sua efetiva
democratização dentro dos mesmos. e) No relacionamento adequado com organismos
da sociedade civil: meios de comunicação de massa, igrejas, entidades de
assessoria, ONGs etc., bem como especialistas individualmente, tais como
engenheiros, jornalistas, advogados e pedagogos .
f) No relacionamento adequado com os partidos políticos, Câmara de Vereadores,
Assembléia Legislativa e outros órgãos do Parlamento, com as Prefeituras e
outros órgãos dos poderes Executivo e Judiciário.
g) Na elaboração de cartazes, faixas, jornais murais, boletins, programas
radiofônicos, releases, correspondência, vídeos etc.
h) Na organização de eventos educativos, culturais e de lazer (cursos,
seminários, exposições artísticas, festivais, torneios, festas etc.), os quais
podem favorecer a organização e ação coletivas.
i)Na preparação e aplicação de pesquisas de opinião.
j) Na escolha de meios adequados para encaminhamento das reivindica-ções juntos
aos órgãos competentes.
1) Na preparação de reuniões e entrevistas coletivas.
m) Na documentação da história do movimento.
Essas são algumas das possibilidades do emprego de técnicas de relações públicas
no campo popular e serão viabilizadas, é claro, sempre de acordo com os
objetivos e necessidades de cada caso especifico.
5. Dos objetivos
Os objetivos globais das relações públicas, ao participarem das batalhas dos
setores organizados das classes subalternas, vão estar no patamar dos objetivos
dos próprios movimentos, os quais neste momento da conjuntura, se apresentam
como: a) satisfação das necessidades imediatas do acesso à riqueza da sociedade,
seja a melhoria das condições de moradia, a instalação do posto médico e acesso
aos demais bens de consumo coletivo, como maiores salários. b) A conquista da
cidadania: participação política, econômica e cultural. c) A ampliação de sua
hegemonia no conjunto da sociedade.
6. Relações Públicas Populares no Nível da Prática
No inicio dos anos de 1990 já podemos olhar criticamente a prática das relações
públicas no âmbito dos movimentos sociais, visto que várias experiências vêm
sendo realizadas, com ou sem a presença de um profissional de relações públicas.
Uma primeira constatação é a carência de relações públicas comprome-tidas com os
interesses dos segmentos subalternos organizados da sociedade. Existem
experiências, mas não são predominantes. Fazendo uma correlação com a medicina
preventiva, a qual nos parece ser uma saída, algo extremamente benéfico à
sociedade, que no entanto não é majoritária porque no jogo de interesses, na
forma como o sistema de saúde e a sociedade estão estruturados não a favorecem.
Algo semelhante pode estar ocorrendo com as relações públicas.
Segundo, as relações públicas, e a comunicação como um todo, têm um papel
fundamental dentro dos movimentos coletivos, no entanto, não vem sendo
utilizadas em todo o seu potencial. De fato há uma carência de utilização, pelos
movimentos populares e sindicais, de técnicas de relações públicas e de
comunicação de uma maneira geral. Mais que isso, muitas vezes são utilizadas de
forma incompetente. Valoriza-se mais a comunicação grupal do que os meios de
maior alcance. Com isso às vezes fala-se só para os já convencidos, só para
aqueles que já estão engajados nos movimentos. Falta ousadia em incrementar a
comunicação, em experimentar novas formas e meios comunicativos. Por vezes os
instrumentos de comuni-cação produzidos são desinteressantes. Os espaços
possíveis nos meios massivos são sub-utilizados, nem se cultiva boas relações
com a imprensa. Faltam ações que visem a formação de conceitos favoráveis às
organizações populares na sociedade, bem como para a conquista de aliados.
Terceiro: as dificuldades advindas das relações de conflito de interesses, às
vezes até de confronto, por exemplo
entre organizações populares e órgãos do poderes público ou entre segmentos
dentro das próprias organizações. A
partir de motivações que podem ser de ordem pessoal, partidária, econômica, de
posição política-ideológica etc., podem se estabelecer relações de conflitos,
nas quais predominam tais tipos de interesses em detrimento dos interesses e
necessidades comunitárias. Porém, também existem experiências nas quais se
respeita o pluralismo e as diferenças, se negocia, se faz lobby visando avançar
na conquista de realizações de interesse coletivo.
Quarto: Quando as relações públicas populares se realizam de modo inserido nos
movimentos, tomando parte de sua dinâmica e cujas ações estão em conformidade
com os objetivos, táticas e estratégias dos próprios movimen-tos, não há uma
absolutização do profissional de relações públicas. Ele se torna mais um dos
facilitadores da ação coletiva e que democratiza seu saber especializado, do que
o porta-voz, negando a figura do relações públicas como mediador isolado.
Quinto: Atualmente, no Brasil, se ampliam as possibilidades de um trabalho de
relações públicas comprometidas com os interesses das organiza-ções populares,
ou num sentido mais amplo, com o interesse público. Por que? Pelo processo de
democratização crescente da sociedade. Por exemplo, as experiências de gestão
democrática do Poder Público local, ou seja de Prefeituras dirigidas por pessoas
de tendências progressistas, bem como outros órgãos públicos, que favorecem a
participação popular e são comprometidos com um trabalho sério, não
clientelístico, nem paternalista, visando atender as necessidades das
comunidades e colocando o interesse público acima de tudo.
Assim, os desafios estão lançados. Estão colocados pela própria sociedade em sua
dura realidade, e ao mesmo tempo, pelo processo de negação dessa mesma realidade
que ela própria constrói. Bem no centro de toda esta temática está a questão da
cidadania. Uma cidadania que realize a participação da pessoa humana enquanto
sujeito, que pensa, propõe, discute, decide, constrói e usufrui. E, os
profissionais de relações públicas, até enquanto cidadãos, com seu saber
especi-alizado, podem dar sua parcela de contribuição na construção de uma
sociedade que supere a degradação humana e a desigualdade social, e desenvolva
uma cultura democrática e a própria democratização econômica, política e
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